sábado, 14 de julho de 2007

Cruzeiro a Marrocos - 1995

Paquete Funchal

De facto a minha viagem a Marrocos foi muito atribulada.
Embarquei no paquete Funchal num final da tarde de uma quinta-feira, após um dia de trabalho anormal.
Sentia-me cansada e com vontade de me deitar na cama e ficar ali a dormir toda a noite sossegadinha.
Mas nem pensar, foi tomar duche a correr, pegar nas malas e ir para o cais de Alcântara ao encontro do bem-dito barco que me levaria num passeio turbulento pelas águas do oceano.
Quem costuma fazer cruzeiros sabe que temos de levar “toneladas” de toilletes diferentes para apenas 5 dias, parece anedota, mas não é …. parece disparate e é….
Dia completo que se passe a bordo, são pelo menos 5 mudas de roupa diferentes, em especial as mulheres, porque nisso os homens têm sorte, ninguém repara se trazem à tarde a mesma camisa que traziam de manhã.
E assim, após o adeus habitual aos ilustres desconhecidos que se encontram no cais a ver o barquito zarpar, é um corre - corre para os camarotes para trocar de roupa.
Depois é ver chegar ao salão de jantar as damas e os cavalheiros em trajes de gala.
Não deixa de ter uma certa piada, faz de facto lembrar as cenas da série televisiva “o barco do amor”.
O jantar decorreu com cerimónia e elegância, e, passámos depois ao bar para assistir à actuação de uma excelente cantora, acompanhada por um não menos excelente pianista.
Aqui, enquanto saboreava um licor, e, começo finalmente a relaxar da correria daquele dia, eis que, de repente começo a sentir uma sensação estranha, um mau estar inesperado.
Quando me levanto para ir à casa de banho, sinto umas tonturas enormes aliadas a sensações de vómito.
“Não acredito”, estou a enjoar, e agora 5 dias enjoada!!! “Por favor, levem-me de volta para a minha casinha”.
Mas ninguém me ouve, ninguém me vê, ninguém quer saber de mim, da minha angústia, do meu sofrimento.
Ninguém é exagero, o meu companheiro, triste por me ver assim, acompanha-me, contra a minha vontade, até ao camarote.
No caminho cruzamos com um jovem camareiro, disposto a ajudar, e, insisto para o meu companheiro voltar ao bar.
Assim faço o resto do percurso na companhia do jovem, que verdade seja dita, foi muito prestável, passou horas comigo a fazer-me comer bolachas de água e sal e maçãs verdes.
“Assim passa mais rápido” dizia ele, a verdade é que não passava nada, a verdade é que não passou nos dias seguintes, nem mesmo com os comprimidos que ele me deu.
Tristeza a minha.
No dia seguinte, ansiosa por sair daquele baloiço, somos dos primeiros a sair do barco, para colocar os pés em terras de Marrocos.
Mal tinha colocado os pés em solo e estava a habituar-me à firmeza da terra, somos literalmente, arrastados por um “bando” de jovens a gesticular e a gritar palavras que me soaram desconexas aos ouvidos.
De repente, foi como se não tivesse saído do barco, senti-me a balançar novamente, senti-me enjoada e confusa.
Fiquei indecisa se voltar para o barco, ou deixar-me arrastar por aqueles jovens barulhentos.
Venceu a segunda opção. O meu companheiro negociou um preço com um dos jovens que nos pareceu mais velho, e, ele por sua vez escolheu outros dois do “bando”, e, assim, os outros desapareceram em direcção a outros turistas.
E lá fomos nós, ilustres desconhecidos, ladeados por 3 body guard franzinos de palmo e meio.
Visitámos os principais pontos turísticos, Medina, e Mesquitas, mas mal nos distraíamos um pouco, já eles nos estavam a conduzir para armazéns de venda de tapetes.
Sem me aperceber estava dentro de um armazém enorme.
Vários turistas de rostos tristes e resignados, sentados em cadeiras ao redor da parede, enquanto no centro os vendedores estendiam e mostravam tapetes.
Sentámo-nos, como os outros e colocam-nos nas mãos um copo de chá a ferver.
Espertos, só para arrefecer o chá era preciso pelo menos uma hora, e, quase outra para o beber, assim garantiam que os espectadores forçados estariam ali a levar seca ate à completa demonstração e lavagem ao cérebro no intuito de comprar pelo menos um, mesmo o mais barato.
Azar o deles e o meu.
O calor que se fazia sentir no armazém, misturado com o pó levantado pelos tapetes e pelos cheiros das tintas e dos incensos intensos, puseram-me a cabeça a andar à roda.
Enjoada!!! Estava outra vez enjoada!!!
Quase a desmaiar fui levada em braços para a rua, onde recebi um bafo quente e húmido, que em nada me ajudou.
Valeu-me um café com uma ventoinha onde pude assim refrescar-me um pouco e descansar.
O dia seguinte passado em Casablanca foi o único desta viagem em que não enjoei, e assim pude desfrutar da praia, dos passeios, e, ate de um bom almoço.
Foi aqui que pude finalmente falar com algumas pessoas locais e perceber um pouco do seu modo de vida, dos usos e costumes destas gentes.
Uma particularidade é que todos tratavam as mulheres portuguesas por “Fatma”, e, os homens portugueses por “João”, ninguém conseguiu explicar porque, faziam-no porque outros o faziam.
Infelizmente, devido ao meu permanente e incómodo estado enjoativo, não desfrutei desta viagem, nem apreciei os cheiros e sabores exóticos desta terra.
Nem perguntei aqueles com quem me cruzei, como viam as diferenças abismais entre o modo de vida opulenta de uns e a miséria de outros.
Nem perguntei ás mulheres de rosto coberto se o faziam porque eram obrigadas a isso, ou, se o faziam por que a sua ideologia religiosa as induzia a andar daquela forma.
Tão pouco perguntei a estas mulheres se concordavam em ser a 2ª, 3ª ou 4ª esposa dos seus maridos, ou à 1ª o que sentiu quando o seu marido resolveu desposar a 2ª, a 3ª ou a 4ª.
Tanto que não perguntei, tanto que já li sobre estes assuntos, e, tantas duvidas que continuo a ter.

Um dia perguntarei …….. Um dia quando regressar aquela terra ……
Mas não irei de barco!!!

Café Casablanca
Aqui estava-se mesmo bem


Obra de Arte estes azulejos


"quem quer água?" (aguadeiros)

Hora da papinha ... pombinhos...


Quem resiste a umas marroquinices?
Fotos tiradas por Joe Santos
Imagem paquete retirada da Internet

12 comentários:

Menina do Rio disse...

Enjôos? Ora eu enjôo até numa viagem de 20 minutos de barca entre o Rio e Niterói...Imagine num navio, então; ia botar as tripas pra fora, se bem que valia o passeio, só pelo fato de conhecer o Marrocos.
Espero que já estejas bem.

Um beijinho pra ti de cá do outro lado do mar

DE-PROPOSITO disse...

Olá.
Uma viagem, o desanuviar a própria existência.
Fica bem.
Felicidades.
Manuel

Isamar disse...

Já lá fui algumas vezes de carro até Algeciras e depois de barco. Também já cheguei a Rabat de avião. Mas só de barco devia morrer enjoada, Ainda bem que avisas.
Beijinhos mil

rendadebilros disse...

Conclusão: aproximam-se umas feriazinhas e a senhora põe-se a recordar as que já passaram... algumas, como este Cruzeiro, imagino que para não repetir...
até ficou enjoada com tantas perguntas que ficaram por fazer...
Esperoq ue este ano corra tudo pelo melhor. Obrigada pela visita à mania das fotos!
Um beijo.

Maria Clarinda disse...

Puxa...imagino. E fez-me lembrar as viagens que fazia no ex- Infante D.Henrique de Angola para cá e vice versa...sorte minha , não enjoava!rs.
Sim tens que voltar...mas vai com o timing e como dizes sem ser de barco....
Jocas

Carminda Pinho disse...

Olá Vitória!
Vim conhecer o seu cantinho para lhe retribuir a visita.
Voltarei mais vezes.
Bjs

Escorpiana Explosiva disse...

linda foto mas passei só pra desejar bom fds,estou meia doente hoje abandonei as palavras volto amanha.

C Valente disse...

força vitoriia,essa viagem a Italia está á espera, barco só se for de gondola e por pocos minutos cerca de 15 a 30 min, normalmente cobram 40euros.
Quanto a esta viagem de cruzeiro, não obrigado,quando vou de férias gosto de levar pouca tralha, e não tinha paciência para mudar de roupa a toda a hora, nem esperar que minha esposa o fize-se. Vou de férias pra passear descansar, divertir, e não para desfile de moda
Saudações, volte sempre

sonhadora disse...

Uma tentação e um sonho.
Beijinhos embrulhados em abraços.

mixtu disse...

uma descrição perfeita de marrocos...

para a próxima, de carro, como todos nós, yayaya

aguadeiros em marraqueche...

abrazo e boas viagens

Menina do Rio disse...

Hoje dividimos a mesma dor
pelas vítimas da tragédia
Apesar da festa
dos eventos esportivos
de termos as três Américas
espalhadas pelo Rio
Vi olhos tristes
corações pesados
pela dor
Em cada evento um minuto de silêncio
pelas vítimas do vôo 3054
Somos frágeis...
Temos a vida por um fio

beijinhos

João JR disse...

Olá! Antes de mais venho agradecer a tua visita ao meu blog, e desculpa a minha ser tão tardia...o tempo que me resta é sempre mt escasso:(
EScolhi este teu post para comentar por 2 razões: 1º porque o fizeste no dia do meu aniversário e 2º porque adoro mar..è a minha paixão!
Aparece sempre que quizeres, és mt benvinda!
CURIOSAMENTE...vou te contar um segredo.. tens o nome q escolhi (e que a minha filha tb adorou:) para a mana que um dia lhe vou dar!Adoro Vitória! Quem não gosta, não é??